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quarta-feira, 8 de julho de 2015

Aplicação do Acordo Ortográfico em Timor-Leste ainda é prematura - linguista


"Não se chegou ainda aos níveis de debate de subtileza da língua. Ainda estamos muito longe. A grande prioridade é a disseminação da língua em si e não se é a antiga ou a nova", explicou à Lusa Benjamim Corte-Real, diretor-geral do Instituto Nacional de Linguística (INL) da Universidade Nacional de Timor Lorosae (UNTL).

Corte-Real considerou que, em Timor-Leste, temas como os debates relacionados com o Acordo continuam distantes, apesar do INL estar já a trabalhar no sentido da sua implementação.

"Na comissão nacional do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), trabalhamos já em perfeita sintonia com o AO, embora alguns membros não tenham o domínio perfeito", afirmou.

"O estado de espírito, mesmo a nível do ministério é no sentido de implementar o AO", sublinhou.

Mas esses debates mais técnicos ainda estão longe, até porque importa é disseminar o português por Timor-Leste, processo, disse, que exige "que se intensifique a leitura, se cultive a leitura, a sensibilidade artística da língua".

"Temos que criar um espírito competitivo. Uma campanha forte para se ter noções mais finas do uso da língua. A minha perceção é que há disposição, prontidão por parte da população em geral sobre o português. Basta ir injetando incentivos para as pessoas poderem começar essa nova aposta", afirmou.

Timor-Leste ratificou o AO em 2009, com três resoluções do Parlamento Nacional sobre a matéria: 14/2009 que aprova a adesão, a 18/2009 que aprova o segundo protocolo modificativo e a 19/2009 que aprova o protocolo modificativo.

O tema voltou a suscitar alguma atenção só no ano passado quando se deslocou a Timor-Leste uma delegação do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) para ajudar a promover a o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC), o Portal do Professor de Português (PPPLE) e o Vocabulário Ortográfico Nacional de Timor-Leste (VON-TL).

Tal com ocorre em Portugal ou noutros países, em Timor-Leste também se ouvem vozes com opiniões discordantes sobre vantagens e desvantagens do AO, ainda que, pela situação do país, este seja um debate "muito prematuro".

Sobre aspetos mais técnicos, como um maior recurso á fonética que o AO implica, Corte-Real admitiu que simplificações como retirar letras mudas pode ajudar em palavras 'importadas' do português para o tétum, como 'ação'.

"O tétum segue o princípio de que para começar é melhor começar simples e fácil. Não é sempre fonética, nem fonémica. Mas retirar as consoantes silenciosas, por exemplo, pode, na correspondência, ser uma coincidência feliz", afirmou.

"É maior vantagem para o tétum escrever hospital sem H. Do ponto de vista do tétum. Mas isto não significa que vamos escrever em português sem 'h'. Já retirar o 'c' mudo de uma palavra portuguesa faz muito sentido, no caso das palavras importadas", referiu.

Corte-Real recordou que, nos primeiros anos da ocupação indonésia, quando o indonésio era imposto aos timorenses, muitos também tinha alguma resistência, mas que hoje a realidade é outra.

"O indonésio não foi logo aprendido nos primeiros anos. Foi muita criticado. Aprendiam palavras soltas para passar a mensagem falsa de submissão, para assegurar a sobrevivência. Mas foi sempre visto como algo inferior ao estatuto das línguas já conhecidas em Timor na altura, nomeadamente o português", afirmou.

O Acordo Ortográfico foi ratificado pela maioria dos países lusófonos, à exceção de Angola e Moçambique. Em Angola ainda nem foi aprovado pelo Governo e em Moçambique aguarda a ratificação pelo parlamento.

Portugal e Brasil estabeleceram moratórias para a aplicação do acordo, estando prevista a entrada em vigor efetiva a 13 de maio e a 01 de janeiro próximos, respetivamente.

Fonte: http://noticias.sapo.tl/portugues/info/artigo/1440717.html

Ministro da Cultura do Brasil e AO com harmonização

O Ministro da Cultura do Brasil, João Luiz Ferreira, admitiu hoje ter havido um excesso de normatização do Acordo Ortográfico (AO) em detrimento da harmonização das diferenças entre os vários países de língua portuguesa.
“Acho que talvez tenhamos errado no acordo [ortográfico] porque pensámos mais na normalização como epicentro desse processo de normatização e de fortalecimento da língua e talvez tenha havido um pouco de descuido em relação à construção desse ambiente de cooperação na área da criação”, afirmou o ministro durante a apresentação do Fólio — Festival Internacional de Literatura.
À margem do encontro, João Luiz Ferreira reconheceu à Lusa que o AO “podia ter sido feito com mais harmonização” das diferenças entre os vários países que subscreveram o documento, dado a língua portuguesa ocupar “um espaço geográfico muito grande”, sendo falada “por milhões de pessoas” e desenvolvendo-se “em contextos culturais distintos”.
O acordo, “procura resolver um problema real” e criar “uma base ortográfica comum”, já que “se permitirmos um desenvolvimento ortográfico diversificado não vamos ficar com uma única língua”.
Porém, defende, “para se chegar à regulação de uma língua tão complexa, tão diversa, que vive em contextos culturais tão distintos como a língua portuguesa é preciso começar pelos que se expressam na língua, pelos criadores” e não pelos “normalizadores”.
Em África, “em cada um dos países a língua portuguesa convive e interage com 50 ou 60 outras línguas num processo diário de recriação da própria língua”, lembra, aludindo ainda ao exemplo do Brasil, cujo processo de colonização foi feito “em convivência com línguas africanas, línguas indígenas e construindo um universo muito próprio”.
Daí que o AO “precise de compreender que essa base técnica comum tem que se desenvolver dentro dessa complexidade”, defendeu o governante reconhecendo que o acordo “podia ter sido feito com mais harmonização dessas diferenças”.
Ainda assim Juca Ferreira estima que até ao final do próximo ano, com o Brasil na liderança da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), o AO possa estar implementado em todos os países e que o mesmo possa ser revisto “substituindo algum aspeto que tenha sido detetado e que foi utilizado de alguma forma inadequada”.
A ideia é “revisitar esse acordo permanentemente” para permitir que “a língua e ortografia possam ir evoluindo adequadamente”, concluiu.
Fonte: http://observador.pt/2015/07/07/ministro-da-cultura-do-brasil-defende-acordo-ortografico-com-maior-harmonizacao/

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